Belo Horizonte é a cidade mais frágil do país e uma das mais vulneráveis do continente americano, de acordo com um levantamento realizado pelo Instituto Igarapé em parceria com o Fórum Econômico Mundial e com a Universidade das Nações Unidas, ligada à ONU. A exposição dos moradores ao risco de desastres naturais, como seca e inundações, foi o que mais pesou na avaliação da capital mineira.
O ranking, que foi elaborado com dados de 2015, inclui 2.100 municípios com mais de 250 mil habitantes em todo o mundo. Foram avaliadas 94 cidades brasileiras. O estudo considera um conjunto de 13 indicadores, sendo que 11 deles são referentes à cidade – como taxas de desemprego, homicídio e crescimento populacional, desigualdade social, risco de inundação e seca, entre outros – e dois referentes ao país: fragilidade do país e risco de confronto armado.
“A exposição cumulativa muito alta de residentes em Belo Horizonte a riscos de desastres naturais parece ser o fator-chave”, avalia o diretor de pesquisa do Instituto Igarapé, Robert Muggah. A cidade obteve nota 2,6 em uma escala que vai de zero (menos frágil) a 4 (mais frágil). A cidade brasileira mais bem-avaliada foi São José dos Campos (SP), com 1,6.
A avaliação de Belo Horizonte é também uma das piores das Américas, ganhando apenas de Porto Príncipe, no Haiti, que obteve 3,1, e ao lado de Cucuta, na Colômbia. A também colombiana Cali vem logo atrás, com 2,5.
Riscos. Apesar de aparentemente contraditórios, os moradores da capital conviveram com temores de seca e inundações em 2015. No início daquele ano, a Companhia de Saneamento de Minas Gerais (Copasa) anunciou que a situação dos reservatórios era crítica em razão da seca prolongada. A empresa pediu que a população reduzisse o consumo de água em 30% e informou que a possibilidade de racionamento era real. O risco de desabastecimento só foi descartado em agosto do ano passado.
Logo depois, começou o período de chuvas, e a preocupação passou a ser com as enchentes. Um dos problemas aconteceu em 27 de outubro, quando um temporal levou caos à região de Venda Nova, com carros arrastados pela enxurrada e lojas alagadas. Os bombeiros tiveram que resgatar motoristas que estavam cercados pela água.
Inundações são frequentes no local e em outros 80 pontos da capital, onde há placas instaladas pela Prefeitura de Belo Horizonte (PBH) para avisar a população sobre o risco de enchente. A orientação é que as pessoas não permaneçam nas vias em caso de chuva forte. Taxa de desemprego e desigualdade social também pesaram no resultado.
Prefeitura
Resposta. A Prefeitura de Belo Horizonte, por meio da assessoria de imprensa, informou que não iria comentar o estudo. A alegação é que ele é complexo e, por isso, iria requerer análise mais detalhada.
Minas
Quatro cidades têm baixa fragilidade
Todas as cidades brasileiras avaliadas estão classificadas como de média ou baixa fragilidade. Dos 94 municípios estudados, 40, ou seja, 42,5%, tiveram nota menor que 2, o que configura baixa fragilidade. Minas Gerais tem quatro representantes neste grupo: Uberaba e Uberlândia, no Triângulo, Governador Valadares, na região do Rio Doce, com nota 1,8, e Juiz de Fora, na Zona da Mata, com 1,9.
“Na verdade, não há cidades consideradas muito frágeis no Brasil”, analisa o diretor de pesquisa do Instituto Igarapé, Robert Muggah. Esses municípios com alta fragilidade (nota entre 3 e 4) estão concentrados na África e na Ásia, onde estão 93% deles. Nesse grupo está Mogadíscio, capital da Somália, com nota 4. Pesaram no índice as 1.902 mortes ligadas ao terrorismo em 2015, o índice de desemprego de 66% e o fato de só 43% da população ter acesso à energia elétrica.
Erro. Na análise de Belo Horizonte, constava uma morte por terrorismo. A informação foi apontada pela reportagem ao Instituto Igarapé, que creditou o erro a um problema no software, que “será corrigido imediatamente”. O indicador, no entanto, não irá alterar a nota de fragilidade da capital mineira. (APP)